A condromalácia patelar, também conhecida como “joelho do corredor”, é o nome que se dá à degeneração da cartilagem articular do joelho. Essa cartilagem reveste a parte posterior da patela e a superfície do fêmur e da tíbia, e também, é responsável por garantir um movimento suave e sem atrito entre os ossos. A causa exata da condromalácia patelar ainda não está completamente esclarecida, mas estudos sugerem que fatores biomecânicos, como aumento da pressão na patela, desalinhamento patelar, fraqueza muscular e instabilidade articular, contribuem para o desenvolvimento e progressão da doença. Os exercícios terapêuticos desempenham um papel crucial no fortalecimento dos músculos do quadril, melhoria da estabilidade articular, correção de desalinhamentos biomecânicos e redução da carga sobre a cartilagem. Com base nisso, exploraremos os exercícios terapêuticos utilizados no tratamento da condromalácia patelar, além de considerações importantes durante o tratamento e meios de prevenção.
Anatomia do joelho
Para entendermos melhor a condromalácia patelar, vamos explorar a anatomia do joelho por partes:
- Fêmur: O osso da coxa, que se articula com a patela;
- Patela: Osso móvel em formato triangular que fica na frente do joelho, deslizando sobre o fêmur;
- Tíbia: Osso da perna, que se articula com a patela e o fêmur;
- Cartilagem articular: Uma camada de tecido conjuntivo que evita o atrito entre os ossos e permite o movimento suave da articulação;
- Tendões: Cordões fibrosos que conectam os músculos aos ossos e fornecem estabilidade à articulação;
- Ligamentos: Faixas de tecido que conecta o fêmur à tíbia, estabilizando a articulação e prevenindo seu deslocamento;
- Meniscos: Estruturas fibrocartilaginosas, encontradas entre o fêmur e a tíbia, responsáveis por dar congruência à articulação e absorver impactos.
Cartilagem Retropatelar
A cartilagem retropatelar é um tecido conjuntivo avascular, o que significa que não possui vasos sanguíneos. Essa característica limita a capacidade de autorreparo da cartilagem em caso de lesão. A nutrição da cartilagem ocorre por difusão de nutrientes a partir do líquido sinovial, que preenche a articulação do joelho. A cartilagem retropatelar também é aneural, ou seja, não possui nervos. Isso significa que ela não é sensível à dor, o que explica por que lesões na cartilagem podem passar despercebidas inicialmente. Por consequência, a capacidade de cicatrização da cartilagem é limitada devido à sua natureza avascular e aneural.
Causas da condromalácia patelar
A condromalácia patelar pode ser causada por diversos fatores, como:
- Desalinhamento da patela: Quando a patela não se move corretamente no sulco femoral, pode haver um aumento da pressão e do atrito na cartilagem articular.
- Sobrecarga da articulação: Atividades repetitivas que exigem flexão e extensão do joelho, como corrida, saltos e agachamentos, podem sobrecarregar a cartilagem patelar.
- Traumas: Lesões no joelho, como quedas ou pancadas, podem danificar a cartilagem.
- Fatores musculares: Fraqueza nos músculos do quadril e da coxa pode levar a um desequilíbrio biomecânico e aumentar a pressão na patela.
- Outros fatores: Obesidade, idade avançada e doenças como artrite reumatoide também podem aumentar o risco de condromalácia patelar.
Sinais e sintomas
- Dor no joelho: Geralmente localizada na parte anterior do joelho, ao redor ou atrás da patela. A dor pode ser agravada por atividades que envolvem dobrar ou esticar o joelho, como subir ou descer escadas, agachamentos ou corrida;
- Crepitação ou estalido: Algumas pessoas podem experimentar creptação, que é um ruído de estalo ou ranger ao dobrar ou esticar o joelho;
- Rigidez e edema: O joelho afetado pode ficar rígido e inchado, especialmente após atividades físicas;
- Fraqueza muscular: Fraqueza nos músculos ao redor do joelho, especialmente no quadríceps, pode ocorrer devido à dor e à falta de uso;
- Instabilidade: Sensação de instabilidade ou “falha” do joelho.
Alterações patológicas
Para compreender melhor a gravidade da condromalácia, é utilizado o sistema de classificação por graus. Essa classificação divide a condição em quatro estágios, são eles:
Estágio 1: Amolecimento da Cartilagem
- Características: A cartilagem articular apresenta amolecimento e perda de elasticidade, mas ainda mantém sua integridade estrutural.
- Sintomas: Dor leve a moderada na região anterior do joelho, principalmente durante atividades que exigem flexão e extensão, como subir escadas, agachar ou correr.
- Tratamento: Repouso relativo, gelo, analgésicos e anti-inflamatórios, fisioterapia para fortalecer os músculos do quadril e melhorar o alinhamento patelar.
Estágio 2: Fissuras Superficiais
- Características: Pequenas fissuras ou rachaduras se formam na superfície da cartilagem, porém sem exposição do osso subcondral.
- Sintomas: Dor mais intensa e frequente, principalmente durante atividades com impacto, como corrida ou saltos. Pode haver crepitação ou estalido no joelho durante o movimento.
- Tratamento: As medidas do estágio 1 são intensificadas, com a possível inclusão de imobilização parcial do joelho para proteger a cartilagem danificada.
Estágio 3: Fissuras Profundas
- Características: As fissuras na cartilagem se aprofundam, atingindo o osso subcondral em alguns pontos.
- Sintomas: Dor severa e constante, inchaço e rigidez no joelho, dificultando atividades cotidianas. Instabilidade articular e sensação de “falha” no joelho são frequentes.
- Tratamento: As opções de tratamento neste estágio incluem medidas conservadoras mais rígidas, como imobilização prolongada do joelho e injeções de corticoides ou ácido hialurônico e fortalecimento múscular sem impacto. Em casos mais graves, a cirurgia pode ser necessária para reparar a cartilagem danificada.
Estágio 4: Degeneração Grave
- Características: A cartilagem articular está severamente desgastada e danificada, com perda significativa da função articular. O osso subcondral é exposto e danificado gerando osteoartrose.
- Sintomas: Dor incapacitante e deformidade articular, limitando drasticamente a amplitude de movimento do joelho. A instabilidade articular é frequente, podendo levar a episódios de “travamento” do joelho.
- Tratamento: Neste estágio, o tratamento geralmente é cirúrgico, com o objetivo de aliviar a dor e melhorar a função articular. As opções cirúrgicas podem incluir condroplastia (remoção das áreas danificadas da cartilagem), osteotomia (realinhamento ósseo) ou até mesmo artroplastia de joelho (substituição da articulação por prótese).
Tratamento fisioterapeutico
O tratamento da condromalácia patelar depende da gravidade da lesão e dos sintomas apresentados pelo paciente. A fisioterapia atua no tratamento conservador com exercícios para fortalecer os músculos do joelho e melhorar o alinhamento patelar, alongamentos, técnicas de reeducação postural e propriocepção.
Exercícios para condromalácia patelar
- Contração Isométrica:
Descrição: Sente-se com as costas retas. Coloque um rolo ou uma toalha enrolada na parte de trás do joelho afetado. Pressione a parte de trás do joelho contra o rolo ou toalha, mantendo a perna reta. Segure a contração por 5-10 segundos e depois relaxe. Repita 4 vezes.
2. Flexão de Quadríceps (Contração Concêntrica):
Descrição: Deite-se de costas com as pernas estendidas. Contraia os músculos do quadríceps (coxa) para levantar a perna com o joelho afetado, mantendo o joelho estendido, até o limite de movimento. Mantenha por um momento e depois abaixe lentamente, sem tocar no chão. Repita o movimento 15 vezes, faça 3 séries.
3. Ostra (fortalecimento dos abdutores)
Descrição: Coloque uma faixa elástica ao redor das pernas, acima do joelho. Deite-se de lado em uma superfície confortável, apoiando a cabeça com o braço inferior e mantendo o corpo em uma linha reta. Flexione os joelhos em um ângulo de aproximadamente 45 graus e mantenha os pés juntos. Abra lentamente o joelho superior para cima, afastando-o do joelho inferior, ao mesmo tempo, mantenha a resistência da faixa elástica. Controle o movimento sem girar o tronco para trás, contraia os músculos do quadril ao abrir e retorne à posição inicial.
4. Agachamento em isometria
Descrição: Fique em pé com as costas contra uma parede e os pés afastados na largura dos ombros. Desça lentamente, fazendo uma pequena flexão de joelho, mantendo as costas pressionadas contra a parede e os joelhos alinhados com os tornozelos. Mantenha a posição por 30 segundos e depois retorne à posição inicial.
5. Flexão e estensão do joelho
Descrição: Fique em pé em uma superfície estável, mantendo os pés afastados na largura dos quadris e apoie em uma parede ou cadeira. Levante lentamente o calcanhar do chão e dobre o joelho afetado, trazendo o calcanhar em direção aos glúteos, em seguida, estenda lentamente o joelho. Execute o movimento de forma suave e controlada, realizando 3 séries de 15 repetições.
Prevenindo a Condromalácia Patelar
A prevenção da condromalácia patelar envolve a adoção de medidas que ajudem a reduzir a sobrecarga e o desgaste na cartilagem da patela, bem como o fortalecimento dos músculos ao redor do joelho para fornecer estabilidade e suporte adequados à articulação. Algumas formas de se previnir a condromalácia patelar são:
- Fortalecimento muscular
Realizar exercícios de fortalecimento dos músculos ao redor do joelho, como os quadríceps, ísquiotibiais e abdutores. Um programa de exercícios bem equilibrado pode ajudar a manter a estabilidade do joelho e reduzir a pressão sobre a patela.
- Quadríceps: os músculos da frente da coxa são responsáveis pela extensão do joelho e desempenham um papel fundamental na estabilização da patela. Exercícios como agachamentos, leg press e elevação do joelho são eficazes para fortalecer o quadríceps.
- Glúteos: os músculos dos glúteos auxiliam na estabilização do quadril e na biomecânica do movimento do joelho. Exercícios como ponte glútea, agachamento sumô e elevação lateral da perna são importantes para fortalecer os glúteos.
- Isquiotibiais: os músculos da parte posterior da coxa (isquiotibiais) atuam como antagonistas do quadríceps, ajudando a controlar a flexão do joelho e a prevenir o encurtamento dos músculos anteriores da coxa. Exercícios como flexão de joelho deitado ou sentado, levantamento terra romeno e prancha com elevação alternada de pernas são alguns recomendados para fortalecer os isquiotibiais.
2. Melhora do Alinhamento Patelar
Incorporar rotinas de alongamento e exercícios de propriocepção para manter a flexibilidade dos músculos e tecidos ao redor do joelho. Isso pode ajudar a reduzir a tensão e a pressão sobre a patela durante as atividades físicas.
- Propriocepção: exercícios que promovem a propriocepção, como equilíbrio em uma perna, prancha e agachamento unilateral, ajudam a melhorar a percepção da posição do joelho e do corpo no espaço, o que pode reduzir o risco de movimentos inadequados que podem sobrecarregar a patela.
- Alongamento: alongar os músculos flexores do quadril, isquiotibiais e adutores ajuda a melhorar a flexibilidade e reduzir o estresse na patela. Alongamentos estáticos e dinâmicos são recomendados para cada grupo muscular.
3. Redução do Estresse na Cartilagem
Evitar ou limitar atividades de alto impacto que possam colocar estresse excessivo sobre os joelhos, aquecer antes de realizar uma atividade física ou usar calçados adequados são boas alternativas para diminuir o impacto na cartilagem.
- Controle do Peso: o excesso de peso corporal aumenta a carga sobre as articulações, incluindo o joelho. Manter um peso saudável pode reduzir significativamente o risco de condromalácia patelar. Para se ter uma ideia, a articulação que recebe maior sobrecarga é a patelo-femoral. O caminhar aumenta a sobrecarga no joelho cerca de 2 a 3 vezes o seu peso corporal e, o correr, cerca de 7 vezes.
- Calçados Adequados: o uso de calçados adequados para cada tipo de atividade física é fundamental para garantir suporte e amortecimento adequados, reduzindo o impacto sobre as articulações.
- Técnicas de Impacto Reduzido: ao praticar atividades físicas, como corrida ou saltos, é importante dar atenção à técnica para minimizar o impacto sobre as articulações. Aumentar a cadência, reduzir a amplitude dos movimentos e utilizar tênis com bom amortecimento podem ser medidas úteis.
- Aquecimento e Resfriamento: realizar um aquecimento adequado antes da atividade física e um resfriamento após o treino ajuda a preparar os músculos e articulações para o movimento e a prevenir lesões.
4. Outras Medidas
- Evitar Atividades que Provoquem Dor: é importante evitar atividades que causem dor no joelho, pois podem piorar a condromalácia patelar.
- Gelo e Repouso: em caso de dor ou inflamação no joelho, a aplicação de gelo e o repouso podem ajudar a aliviar os sintomas.
- Orientação Profissional: a consulta com um fisioterapeuta é crucial para a avaliação individualizada, o desenvolvimento de um plano de exercícios específico e a orientação adequada para a prevenção da condromalácia patelar.
- Corrigir Desalinhamentos Posturais: corrigir desalinhamentos posturais e padrões de movimento inadequados que possam contribuir para a sobrecarga nos joelhos. Isso pode envolver a avaliação e a correção de problemas posturais, como pé chato ou joelhos valgos (joelhos voltados para dentro).
- Progressão Gradual do Exercício: evitar aumentos repentinos na intensidade ou duração do exercício. Aumentar a carga de treino de forma gradual e progressiva ajuda a evitar lesões por sobrecarga nos joelhos.