Entorse de Tornozelo: mecanismo da lesão e reabilitação

A Entorse de tornozelo é uma lesão ligamentar comum que ocorre quando o tornozelo se move além do seu limite normal de movimento. Essa lesão pode ser leve, moderada ou grave, causando dor, inchaço e instabilidade no tornozelo. A fisioterapia desempenha um papel crucial no tratamento de uma entorse de tornozelo, oferecendo uma abordagem abrangente para ajudar na recuperação e prevenir complicações a longo prazo.

Anatomia do tornozelo

A articulação do tornozelo é uma articulação sinovial formada por três ossos: tálus, tíbia e fíbula. Os ligamentos do tornozelo são bandas de tecido conjuntivo que conectam os ossos e estabilizam a articulação. Os ligamentos geralmente lesionados em uma entorse de tornozelo são os ligamentos talofibular anterior, calcaneofibular,  talofibular posterior e o ligamento deltoide.

Principais causas

A entorse de tornozelo pode ser causada por diversos fatores, incluindo:

  • Pés virados para dentro ou para fora: pessoas com pés pronados (virados para dentro) ou supinados (virados para fora) são mais propensas a entorses de tornozelo;
  • Terreno irregular: pisar em um buraco, pedra ou outro obstáculo pode causar uma entorse de tornozelo;
  • Atividade física: entorses de tornozelo são comuns em esportes que envolvem saltos, corridas e mudanças bruscas de direção, como futebol, basquete e vôlei;
  • Falta de flexibilidade e força muscular: músculos fracos e tornozelos rígidos podem aumentar o risco de entorse.

Sinais e sintomas

Os sintomas de uma entorse de tornozelo são:

  • Dor aguda no tornozelo, principalmente na parte lateral.
  • Inchaço no tornozelo, que pode aumentar com o tempo.
  • Hematoma, que pode ser azul, verde ou amarelo.
  • Dificuldade em colocar peso no tornozelo afetado.
  • Instabilidade, sensação de que o tornozelo vai “virar” ou “sair do lugar”.

Tipos de entorse de tornozelo

Pode ser classificada em 3 tipos:

  1. Entorse de Tornozelo Inversa (Lateral): é a forma mais comum de entorse de tornozelo, resultante de uma torção excessiva do pé para dentro (inversão). Os ligamentos mais comumente afetados são o ligamento talofibular anterior e o ligamento calcaneofibular.
  2. Entorse de Tornozelo Eversa (Medial): menos comum do que a entorse inversa, resulta de uma torção excessiva do pé para fora (eversão). Os ligamentos mais afetados são o ligamento deltóide e, ocasionalmente, o ligamento fibulotalar posterior.
  3. Entorse de Tornozelo Rotacional: é uma forma mais complexa de entorse, ocorrendo quando o pé é torcido de forma rotacional. Pode resultar em danos a múltiplos ligamentos ao redor do tornozelo, dependendo da força e direção do movimento.

Graus da lesão

Quanto ao grau da entorse, são classificados em 3 tipos de acordo com a gravidade do dano aos ligamentos, sendo eles:

  1. Entorse de Tornozelo Grau I (Leve): envolve um estiramento leve dos ligamentos ao redor do tornozelo, com pequenas microlesões nos tecidos. Os sintomas envolvem dor leve a moderada, inchaço e rigidez ao redor do tornozelo. Pode haver uma pequena dificuldade para caminhar, mas geralmente não há instabilidade significativa na articulação.
  2. Entorse de Tornozelo Grau II (Moderada): envolve um estiramento mais significativo dos ligamentos, resultando em danos parciais nos tecidos e possíveis rupturas parciais dos ligamentos. Os sintomas apresentam dor moderada a intensa, inchaço, hematomas e dificuldade para suportar peso no tornozelo afetado. A instabilidade da articulação é mais pronunciada, com uma sensação de “frouxidão” ao redor do tornozelo.
  3. Entorse de Tornozelo Grau III (Grave): envolve uma ruptura completa dos ligamentos ao redor do tornozelo, resultando em uma perda significativa de estabilidade na articulação. Os sintomas incluem dor intensa, inchaço severo, equimose (manchas roxas) e incapacidade de suportar peso no tornozelo afetado. A articulação fica instável e pode ceder durante a tentativa do apoio de peso.

Tratamento para entorse de tornozelo

Para entorse grau I:

  • Repouso e Proteção: inicialmente, reduza a carga sobre o tornozelo lesionado para permitir a cicatrização dos tecidos. Isso pode envolver o uso de uma tala, órtese ou tornozeleira para proteger a articulação.
  • Crioterapia: aplique compressas frias no tornozelo para ajudar a reduzir a inflamação e o inchaço. Mas atenção! Não aplique o gelo diretamente sobre a pele e não deixe por mais de 20 minutos para evitar queimaduras.
  • Elevação: elevar o tornozelo lesionado acima do nível do coração ajuda a reduzir o inchaço.

Para entorse grau II:

  • Repouso, imobilização, elevação e crioterapia: são pontos fundamentais para diminuir o processo inflamatório e ajudar no processo de cicatrização. É importante respeitar essa fase para completar o processo de cura, devido as rupturas parciais ocasionadas no tornozelo, para então começar o proceso de reabilitação;
  • Terapia Manual: as técnicas de terapia manual, como mobilizações articulares suaves, podem ser usadas para restaurar a mobilidade articular, fator importante devido ao tempo que o membro ficou imobilizado;
  • Exercícios de Fortalecimento: iniciar um programa de exercícios de fortalecimento para os músculos do tornozelo, panturrilha e pé para estabilizar a articulação e prevenir recorrências;
  • Treinamento Funcional: Incorporar exercícios funcionais que imitam atividades diárias e esportivas para ajudar na transição para atividades mais complexas;
  • Propriocepção e Equilíbrio: exercícios específicos para melhorar a propriocepção e o equilíbrio, como exercícios em superfícies estáveis, ajudam a prevenir futuras lesões.

Para entorse grau III:

  • Imobilização: Uma imobilização mais rígida, como uma bota de imobilização ou gesso, pode ser necessária inicialmente para proteger o tornozelo e permitir a cicatrização, devido a ruptura total de um ou mais ligamentos do tornozelo;
  • Eletroterapia: Modalidades de eletroterapia, como estimulação elétrica neuromuscular (TENS) e ultrassom terapêutico, podem ser usadas para aliviar a dor e promover a cicatrização dos tecidos;
  • Reabilitação Progressiva: A reabilitação progressiva inclui uma combinação de terapia manual, exercícios de fortalecimento, treinamento de equilíbrio e propriocepção, bem como atividades funcionais específicas para ajudar na recuperação completa do tornozelo.

Tempo de recuperação

O tempo de recuperação para entorse de tornozelo varia de acordo com a gravidade da lesão. Colocando como parâmetro o retorno à prática esportiva, lesões de grau I demoram de 2 a 4 semanas. As entorses de grau II, por serem um pouco mais graves, demoram de 6 a 8 semanas. Já as entorses de grau III (Ligamentos completamente rompidos), em casos que se faz necessário a cirúrgia para a reconstrução dos ligamentos, o tempo de recuperação varia de 12 semanas a 6 meses.

Fatores que influenciam na recuperação:

  • Idade e saúde geral do paciente;
  • Gravidade da lesão;
  • Localização da lesão.
  • Tratamento adequado;
  • Reabilitação fisioterapêutica.

Prevenção

A prevenção da entorse de tornozelo pode ser abordada de várias maneiras, como:

  • Fortalecimento Muscular: Exercícios que visam fortalecer os músculos ao redor do tornozelo, incluindo os músculos da panturrilha, tibiais e peroneais (fibulares), podem ajudar a fornecer suporte adicional e estabilidade ao tornozelo. Exercícios como elevação de panturrilha, flexão plantar e inversão e eversão do tornozelo são úteis;
  • Exercícios de mobilidade: Uma mobilidade adequada do tornozelo é essencial para distribuir uniformemente as forças durante a atividade física. A falta de mobilidade leva a compensações inadequadas em outras partes do corpo, aumentando o risco de entorses e outras lesões. Algumas técnicas como alongamentos dinâmicos de panturrilha, mobilizações articulares ativas e passivas, mobilizações específicas para dorsiflexão, inversão e eversão do tornozelo, ajudam a melhorar a mobilidade do tornozelo.
  • Treinamento de Equilíbrio: O treinamento de equilíbrio pode melhorar a propriocepção e a estabilidade do tornozelo, reduzindo o risco de entorse. Exercícios simples, como ficar em um pé só com os olhos fechados, ou exercícios em superfícies instáveis, como uma almofada ou bosu, são eficazes;
  • Calçados Adequados: Usar calçados apropriados para a atividade física praticada pode ajudar a prevenir entorses de tornozelo. Tênis com bom suporte de tornozelo e sola antiderrapante são recomendados, especialmente para esportes de alto impacto;
  • Técnicas de Treinamento Esportivo: Atletas devem receber treinamento específico para a prevenção de lesões, incluindo entorses de tornozelo. Isso pode incluir técnicas de aterrissagem segura, mudanças de direção adequadas e estratégias para evitar situações de alto risco.

É importante consultar um profissional de saúde, como um fisioterapeuta ou médico especializado em medicina esportiva, para obter orientação específica sobre a prevenção de entorses de tornozelo, especialmente se você tiver um histórico de lesões ou estiver envolvido em atividades físicas de alto risco.

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